Por Catarina Martins
29 de abril de 2024
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As memórias da minha infância são difusas. Sempre o foram depois de partires. Lembro-me dos gritos da minha mãe e dos prantos do meu pai. Lembro-me do maldito ritmo incómodo do sistema de rega automático, a bater sem me deixar dormir. Lembro-me de ver a avó sentar-se à mesa da cozinha, dizer à minha mãe que tudo ia ficar bem. Lembro-me do avô anotar as tuas datas: nascimento e...Tento lembrar-me de ti. Da tua cara, do teu sorriso. Só vejo uma sombra a desvanecer-se. Porquê? Olho para o nosso castelo de cartão, aquele que o pai fez para o teu aniversário. Já estavas doente, já estavas a partir.
Respiro fundo. Cresci. Estarias orgulhosa de mim? Não sei. És uma sombra na minha memória. Tento agarrar-te mas és melíflua. Acho que te vou perder para sempre nas difusas memórias da minha infância.