Por Ana Bernardes
13 de novembro de 2023
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O Verão Quente de 1975 foi uma época de grande instabilidade política, caracterizada por uma evidente divisão social entre as forças defensoras de uma democracia de tipo ocidental e as forças que tendiam para o caminho revolucionário (RTP Ensina, 2012). Ainda que o sentimento nostálgico que a conquista da liberdade em Portugal nos proporcionou permaneça até hoje, e seja celebrado anualmente, pode admitir-se que nunca mais experienciámos um verão semelhante.
Apesar disso, com o impacto das alterações climáticas, as temperaturas têm vindo a aumentar ano após ano. Já em 2022 se tinham registado na Europa e em Portugal temperaturas alarmantes (Público, 2023). Em 2023 não foi diferente, tendo sido um verão particularmente prolongado, cujo calor perturbador nos assolou até meados de outubro. Cada vez mais assistimos ao desvanecer das características particulares das quatro estações, bem como a progressão ténue de uma para outra, e vemos nascer dois cenários extremos: o calor sufocante e o frio gélido.
O problema não assenta apenas no aumento das temperaturas globais e do efeito de estufa, mas sim nas suas consequências. Todos os anos deparamo-nos com um aumento significativo das vagas de incêndios, a uma destruição massiva da fauna e da flora à escala mundial, a uma diminuição da disponibilidade de água – e a lista não cessa de crescer. O que as populações ao redor do mundo falham em reconhecer é que, no limite, este problema coloca em causa a manutenção da nossa espécie na Terra. No que toca à ação governamental, o cenário não é diferente.
O Willow Project foi aprovado por Joe Biden a 13 de março de 2023, visando a extração de petróleo no Alaska. Este projeto será responsável pela emissão de cerca de 240 milhões de toneladas de dióxido de carbono para a atmosfera nos próximos 30 anos (GZH Ambiente, 2023), resultando na degradação do habitat natural de muitas espécies locais, comprometendo a sua sobrevivência. Biden estabeleceu como meta para o seu mandato a redução em 50% dos gases com efeito estufa emitidos relativamente aos valores registados em 2005 (GZH Ambiente, 2023), pelo que esta decisão contraditória, reveladora de alguma hipocrisia, gerou descontentamento e controvérsia entre os ambientalistas.
São vários os casos práticos onde é possível observar a ganância e ingenuidade do ser humano, que tantas vezes sobrepõe os seus interesses à sua própria existência. Não há cimeira ambiental que se sobreponha aos interesses económicos e políticos de uma potência.
Quando iremos nós atingir o limite? Quando irão ser tomadas medidas para travar a crise climática? Existem duas potenciais respostas para estas questões assombrosas. Num dos possíveis cenários, a crise climática atingiria tal estado de calamidade que quantidades incomensuráveis de medidas teriam que ser tomadas, de um momento para o outro, na tentativa de reverter a situação - quem diria, até a realização de quarentenas estratégicas para diminuir significativamente a emissão de dióxido de carbono para a atmosfera. Noutro cenário, os governos só se lembrariam de tomar essas decisões quando já fosse demasiado tarde.
Referências Bibliográficas
RTP Ensina. (s.d.). O Verão Quente de 1975. RTP Ensina. https://ensina.rtp.pt/artigo/o-verao-quente-de-1975/
Público. (2023, janeiro 10). Verão de 2022 na Europa foi o mais quente desde que há registos. Público. https://www.publico.pt/2023/01/10/azul/noticia/2022-ano-varios-recordes-meteorologicos-portugal-europa-2034532
GZH Ambiente. (2023, março 22). O que é o Projeto Willow e qual impacto pode causar na Terra. GZH. https://gauchazh.clicrbs.com.br/ambiente/noticia/2023/03/o-que-e-o-projeto-willow-e-qual-impacto-pode-causar-na-terra-clfiohav700a9016b4eegn8m0.html